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Aqui pretendo divulgar a Fonoaudiologia e outros assuntos relacionados à saúde e qualidade de vida.
Exponho um pouco do que sei e pratico, e também procuro repassar o que adquiro nos cursos que realizo.
Exponho também uma coletânea de textos de diversos sites(resultado das "viagens" que faço pelo mundo virtual e literário, estudando, lendo, pesquisando o que há de recente e interessante no mundo da Fonoaudiologia).
O corpo humano é uma máquina maravilhosa porém necessita de todo cuidado a fim de se preservar as suas capacidades e depende exclusivamente do meio ambiente em que está inserido.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Em 2010, Brasil, Argentina, Uruguai e Venezuela uniram-se na campanha do Dia Internacional


Presbifagia: Dificuldade de deglutição no idoso

A presbifagia é o nome que se dá a dificuldade de deglutição (sem causa neurológica associada) apresentada pelo idoso com saúde.
Caracteriza-se pelas modificações e alterações na condução do bolo alimentar nos indivíduos saudáveis que se encontram na fase do envelhecimento.
No idoso, a disfagia pode ser causada pelo envelhecimento associado à doenças sistêmicas.
Os transtornos alimentares no idoso resultam não somente em doenças faringoesofágicas, mas também em distúrbios não associados com o trato gastrointestinal, associados a problemas cognitivos, físicos, doenças dentais, osteoporose afetando a mandíbula e deterioração dos músculos da mastigação.

Os sinais da presbifagia são:
-alteração no vedamento labial;
-descontrole do bolo;
-trânsito oral lentificado;
-tremor labial e lingual;
-acúmulo de resíduos no vestíbulo,
-redução da elevação laríngea
-rigidez mandibular.

Os principais sinais nos órgãos fonoarticulatórios do idoso são:
-aumento da quantidade de tecido conjuntivo da língua,
-perda da dentição,
-redução da força mastigatória
-prolongamento da fase orofaríngea.

Já na fase faríngea os principais sintomas seriam:
-redução do grau de elevação anterior da laringe,
-atraso no início da excursão hiolaríngea,
-discreto aumento do trânsito faríngeo (sexo feminino)
-aumento da duração da onda de pressão faríngea (sexo masculino).

E na fase esofágica os sinais são:
-maior duração devido ao maior tempo de relaxação do esfincter esofágico superior.

Tais alterações influenciam negativamente toda a dinâmica da deglutição.
Para que ocorra uma deglutição eficiente, é essencial a integridade anatomofuncional de todos os órgãos, músculos e nervos.
A desarmonia entre as vias aferente e eferente ou a interferência em qualquer estágio da deglutição pode resultar em disfagia.

-->A fase faríngea depende da contração descendente dos músculos constritores faríngeos para impulsionar o bolo.
-->Na hora que o bolo alimentar vai passar, a laringe deve fechar-se e e elevar-se a fim de evitar a penetração ou aspiração do alimento.
-->O esfíncter esofágico superior relaxa, permitindo a passagem do alimento para a fase esofágica.

No idoso, este mecanismo já não acontece com tanta precisão.
-->A propulsão oral ineficiente ou a redução da contração da musculatura faríngea resulta em retenção de alimento em valécula, fazendo-se necessária uma nova onda propulsiva a fim de impulsionar o bolo.
-->A diminuição da tonicidade muscular resulta em diminuição na efetividade do esvaziamento farígeo, já a dilatação faríngea predispõe ao aparecimento do divertículo, enquanto que a flacidez dos ligamentos diminui a amplitude de elevação e abaixamento da laringe e abertura do esfíncter esofágico superior.
-->O atraso do reflexo da deglutição ocasiona: estase em valéculas e recessos piriformes, com risco de penetração ou aspiração laríngea, alterações da mobilidade faríngea e da função do músculo cricofaríngeo.
-->A diminuição da elevação laríngea deixa as vias aéreas “desprotegidas”, permitindo a penetração ou aspiração dos alimentos pela laringe.
--> Alteração na mobilidade laríngea pode estar relacionada à diminuição de tônus muscular, muito frequente em idosos. Esta hipotonia, leva à diminuição na efetividade do esvaziamento faríngeo e amplitude de elevação e abaixamento da larínge.
-->A diminuição da elevação laríngea pode estar associada à diminuição do limiar de excitabilidade do reflexo de deglutição.
Há um atraso no disparo do reflexo à alterações no transporte do bolo alimentar da cavidade oral para a faringe, alterando a fase oral.
Observa-se assim que a diminuição do tônus muscular pode contribuir para alterações na fase oral e faríngea da deglutição e, consequentemente, no atraso do reflexo e diminuição da elevação laríngea.

A videofluoroscopia é um exame simples que ainda busca reconhecimento.
Trata-se de uma radiografia filmada que se movimenta em tempo real.
O operador da máquina pode ainda gravar o exame em dvd, possibilitando que seja assistido inúmeras vezes sem a necessidade de nova exposição do paciente à radiação.
-->O paciente toma um costraste de bário misturado a consistência alimentar a ser testada (líquido, pastoso ou sólido) e segue as orientações para se movimentar em frente ao aparelho, em tomadas de frente e de perfil.
-->É possível visualizar as alterações da cavidade oral até o estômago.
Também conhecido como Videodeglutograma, o método é considerado de padrão ouro para o estudo da deglutição.

Professor, o que você pode fazer por seu aluno que gagueja?

As vezes o professor faz uma simples pergunta, do tipo "Você entendeu?" ou " Onde está seu caderno?".
E para o aluno que sofre com gagueira, parece que o mundo inteiro vai cair sobre sua cabeça.
O aluno começa, então, a bater o pé no chão, a mexer nos cabelos e a repetir uma mesma sílaba. Ele vai ficando cada vez mais nervoso ao tentar, sem sucesso, responder à sua questão.
O professor percebe o mal-estar e fica na dúvida: espera o aluno a falar ou ajuda-o, completando as palavras?

E realmente, lidar com um estudante gago traz insegurança aos professores.
Algumas atitudes até agravam o problema que se não for tratado, afeta também a auto-estima, a socialização e a aprendizagem do aluno.
Por isso, é importante que os professores sejam orientados quanto a gagueira, fazendo com que sua atuação seja positiva em sala de aula, contribuindo para a melhora do aluno.

A gagueira (disfluência da fala) ainda não tem causa determinante.
Pesquisas já comprovaram que fortes emoções não desencadeiam a gagueira, mas situações acompanhadas de críticas, humilhações e fortes emoções pioram um quadro de gagueira já existente.
É comum o aparecimento de uma fala disfluente na fase pré-escolar. Nessa fase, os pequenos estão automatizando a fala, aprendendo a falar e é natural que apresentem dificuldades ao pronunciar algumas palavras e frases, mas ainda não pode ser considerado gagueira.
Falar não é um ato tão simples assim. Exige certa precisão nos órgãos motores da fala.
A criança na idade pré-escolar está dominando a linguagem, conhecendo seus movimentos e o próprio corpo. É normal que a criança hesite, ou que faça pausas longas e repita palavras, pois é o ensaio da fala.
Essa fala disfluente na criança em fase pré-escolar pode simplesmente desaparecer ou em alguns casos, acaba se instalando e evoluindo para um quadro de gagueira.
Por isso é importante que os pais e os professores sejam orientados quanto as condutas adequadas diante das situações de gagueira.

A partir dos 6 a 7 anos, a fala disfluente deve diminuir progressivamente. O problema começa a ser preocupante quando o aluno repete sons e sílabas, demonstra esforço para falar, faz movimentos repetidos como piscar os olhos, bater a mão ou o pé ou mexer nos cabelos e não olha para a pessoa com quem conversa.
Quando isso começa a acontecer, além da dificuldade em falar, o aluno passa a ter dificuldade em lidar com suas próprias emoções: vergonha, tensão e ansiedade que surgem com as críticas.
Quando os pais ou os professores censuram o modo da criança falar ou pede que ela repita devagar, estão mostrando insatisfação com o modo que ela fala. A insegurança e o medo de falar geram no aluno uma pressão emocional e a gagueira se agrava, o aluno se isola e seu rendimento cai.
Por isso é importante que pais , professores e até mesmo funcionários da escola sejam orientados.
No geral, as pessoas devem ser orientadas a ter paciência e evitar interromper o aluno ou chamar a atenção dele para falar devagar.
Quando a criança é muito nova, nem nota a dificuldade da fala porque importa mais o que ela quer falar do que como fazer isso.
Como a criança não percebe se está se expressando corretamente, não se sente rotulada nem deixa de conversar.
Mas, se o adulto começa a chamar a atenção da criança no momento que ela apresenta a dificuldade da fala e ressalta os seus "erros", a criança começa a dar importância ao jeito de falar e fica com medo de abrir a boca outra vez. É exatamente nessa atitude do adulto que a fala com suas dificuldades naturais da idade, passa a evoluir para um quadro de gagueira.
As vezes o problema nem se agrave tanto ou talvez desapareça com o tempo, mas a baixa auto-estima, a dificuldade de se socializar e a insegurança as vezes ficam.
Disfluências de fala na fase pré-escolar é uma situação que requer cuidados e atenção, porque a criança pode se tornar um jovem frustrado e inseguro no futuro.
Portanto professores, é essencial agir com paciência e naturalmente com o aluno gago, respeitá-lo e incentivar os colegas a fazer o mesmo. Isso vai ajudá-lo a se sentir aceito e à vontade.

Para incentivar e ensinar a turma da classe a lidar com as diferenças, o professor pode elaborar atividades ligadas à linguagem em que todos digam o que pensam e sentem, sempre trabalhando o respeito às peculiaridades de cada um.
As brincadeiras com rimas, músicas e instrumentos musicais também são úteis, pois nessas atividades o aluno com gagueira apresenta menos dificuldade.
É muito importante que o professor olhe sempre nos olhos do aluno.

Atitudes positivas e negativas dos adultos
que convivem com crianças ou jovens gagos:.
Uma preocupação do professor, diante destas crianças, deve ser:
-como se espera que ela participe em sala de aula? A resposta a esta pergunta depende da criança.
De um lado pode-se ter uma criança que é despreocupada e alegre em participar junto com as outras crianças.
Por outro lado, pode-se ter uma criança na qual a exposição a faça chorar, negar-se a falar ou falar com sofrimento.
Professor:
-Assim, é importante que o professor converse abertamente com o aluno. E verificar quais situações em sala de aula ela se sente à vontade para participar.
-O professor deve agir com paciência, calma e pronto a dar apoio.
-É aconselhável que converse com a criança em particular.
-Demonstre suas capacidades e incentive o aluno a participar. Se mesmo assim o aluno continuar não se sentindo à vontade, demonstre que não há problema e que ela poderá sempre contar com você, demonstrando que a aceita como a todos os outros alunos.
Em situações de perguntas e respostas:
Outra dúvida do professor é quando se faz perguntas em sala de aula.
Como assegurar o melhor para a criança que gagueja nesta situação?
Aqui vão algumas dicas:
- Inicialmente, até ela se adaptar a turma, faça-lhe perguntas que não impliquem em longas respostas;
-Se for fazer uma pergunta a cada aluno, descubra antes se a criança que gagueja prefere que lhe seja logo perguntada ou depois, pois a preocupação com a fala e a tensão pode gradualmente aumentar a cada aluno que é perguntado;
-Assegure com a turma que todos terão o tempo necessário para responder a pergunta, respeitando se algum colega demorar.
Apresentação de trabalho
Este tipo de atividade pode ser muito dolorosa para a criança que gagueja e deve ser adaptada na medida do possível.
-Se a criança preferir ler na frente, por exemplo, ou apresentar um trabalho por escrito, pode ser uma boa solução.
Ler em voz alta na sala de aula.
Nem toda criança que tem gagueira gagueja na hora da leitura.
Mas há aquelas que podem até gaguejar mais no ato ler que falando.
Saiba que estas podem ser fluentes caso leiam em coro com alguém.
Assim, sugere-se que a leitura possa ser feita em duplas, em coro, caso haja alguma criança com gagueira na turma.
Não faça a leitura em coro apenas com o aluno que gagueja para que ele não se sinta excluído dos demais.
Gradualmente, quem sabe ele mesmo ganhe a confiança em ler alto sozinho.
Lidando com os alunos que riem da criança com gagueira
A gagueira, muitas vezes, não é aceitável, o que pode levar as pessoas que não entendem a criança que gagueja a brincarem com o seu problema.
No entanto, este tipo de atitude pode trazer sérias conseqüências emocionais a mesma.
- se a criança tem sido perturbada pelo seu modo de falar, converse com cada aluno que esteja fazendo isso, individualmente, e explique sobre o problema e as conseqüências desse tipo de brincadeira para o colega.
- caso persista, reúna-os e coloque como inaceitável este tipo de situação, fazendo-os entender o porquê
.- trabalhar com a turma sobre o respeito as pessoas e suas diferenças é um conteúdo sempre bem-vindo em todas as turmas.
Pequenas atitudes que fazem grandes diferenças
1. Nunca diga a criança para falar mais devagar, relaxar, respirar antes de falar...
2. A única forma de ajudar o aluno quando estiver gaguejando é ouvindo-o com atenção e paciência.
3. Não complete a frase para a criança. Deixe-a terminar a seu tempo;
4. Auxilie a todos da sala a saberem conversar e ouvir. Todo ouvinte merece atenção.
5. Demonstre que para você interessa o conteúdo da mensagem e não como ela está sendo transmitida. Avalie seu aluno pelo conteúdo.
6. Não solicite da criança que gagueja algo que perceba que não está à vontade para participar.
7. O assunto gagueira não é proibido. Fale sobre ele como se fala sobre qualquer assunto.
8. Faça as adaptações necessárias na sala de aula para auxiliar a criança que gagueja.

O que fazer:
■ Tratar a criança como as demais durante uma conversa.
■ Dar atenção ao que ela diz, e não a como se expressa. Se ela estiver ansiosa, diga que você tem tempo e não a interrompa.
■ Incentivar a participação dela nos dias em que apresentar mais facilidade para falar.
■ Repetir de forma espontânea o que ela disse, tornando a conversa natural. Ao ver que foi compreendida, ela dará menos importância ao modo como se expressa.
■ Reduzir a velocidade de sua fala ao conversar com ela, marcando bem as pausas e olhando em seus olhos.
■ Fazer perguntas que possam ser respondidas com poucas palavras até que ela se sinta à vontade na classe.
■ Pedir aos alunos para ler em conjunto e em duplas. A maioria dos gagos torna-se fluente ao ler acompanhada, pois o ritmo da leitura é demarcado e previsível.
■ Falar com a turma, sem a presença da criança, sobre como é ruim gaguejar e que chacotas só pioram o problema do colega.

O que não fazer:
■ Falar para a criança parar de gaguejar.
■ Pedir para pensar ou respirar antes de falar (isso atrapalha porque o pensamento, a respiração e a fala ocorrem naturalmente).
■ Responder por ela ou terminar suas palavras.
■ Propor que pare a frase no meio e recomece.
■ Demonstrar impaciência, irritação ou desconforto em relação a como ela fala.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Orientações a Pais de crianças que gaguejam

Orientações para as famílias de crianças que gaguejam

- Não rotule seu filho como gago;

-Não repreenda seu filho, não o ameace, não o coloque de castigo, não faça "troca" com objetos (ou outra coisa) pedindo que fale certo, não ridicularize.

- Aceite as falhas ou quebras de ritmo – elas fazem parte do processo de aquisição da linguagem;

- Não peça para a criança não ter medo de falar ou ficar calma e respirar antes de falar;

- Quando a criança falar olhe diretamente para seu rosto toda a sua atenção deve estar voltada para ela;

-Independente de seu filho estar fluente ou não, mostre que a conversa está prazeirosa e que você está interessado em ouví-lo.

- Observe rotinas com a criança – horários para comer, dormir, escola;

- Evite discussões na frente da criança, porém não esconda fatos importantes que possam mudar sua rotina. Se a família estiver muito agitada, procurem ver onde poderiam ocorrer algumas mudanças.

-Excesso de regras e imposição a compromissos não facilitam a comunicação, principalmente de uma criança que gagueja.

- Ouça com atenção e paciência o que seu filho tem a dizer;

- Não termine as frases nem o assunto para a criança;

- Leia estórias para a criança antes de dormir;

- Melhore a auto-estimada criança – elogie-a sempre que possível.

-Converse com seu filho e explique que as vezes a "boca" "tranca" e "não quer falar".

-Falar devagar com a criança. Dar-lhe tempo para responder.

- Transforme os momentos de fala de seu filho em momentos agradáveis.

A partir da conscientização e do entendimento sobre o processo da disfluência a família pode influir e muito na prevenção da gagueira.
É importante lembrar que quanto mais precoce for o diagnóstico da gagueira melhor seu prognóstico.
Quando houver dúvidas, procure sempre o fonoaudiólogo.

DICAS que ESTIMULEM A FLUÊNCIA DA FALA:

-brincando de falar em câmera lenta como na tv, ao reprisar lances de futebol, por exemplo.

-cantar, dizer falas automatizadas (dias da semana, números),

-brincar de falar no ritmo,

-fazer teatrinhos.

As condutas dos pais devem estar adequadas à idade da criança, ao seu nível de maturidade, às suas conquistas de fluência com a terapia. Pais devem observar seus níveis de exigências, e seguir as combinações feitas na hora de decidir os objetivos terapêuticos. Melhorar a gagueira não é uma tarefa que se realiza em poucos dias. Tolerância e colaboração são habilidades a desenvolver, sempre que necessário.

Dia Internacional de Atenção à Gagueira

Dia 22 de outubro é o Dia Internacional de Atenção à Gagueira.
Na semana de 22 a 28 de outubro, haverá diversos eventos em todo o Brasil para divulgar a Campanha.
Mesmo com o avanço da sociedade, ainda hoje, pessoas sofrem preconceito e enfrentam problemas por apresentarem gagueira.
Embora para algumas pessoas possa “soar” como algo engraçado, o assunto é muito sério e merece toda atenção devida, e também a divulgação de informações a respeito.
No Brasil, a primeira campanha aconteceu só em 2005, mas o dia Internacional de Atenção a Gagueira (DIAG) foi criado no dia 22 de outubro de 1998 pela International Fluency Association (IFA - Associação Internacional de Fluência) e pela International Stuttering Association (ISA - Associação Internacional de Gagueira).
O objetivo de se criar esse dia especial à Gagueira é mostrar que essa dificuldade para quem vive o problema não tem graça alguma e que pode ser tratada.
Segundo os especialistas, todas as pessoas apresentam gagueira, em maior ou menor intensidade, dependendo da situação que estão vivendo. Mas, oficialmente, só 1% da população brasileira, ou quase dois milhões de pessoas, tem sua rotina alterada em função dos problemas na linguagem. Essa mesma pesquisa afirma que no mundo o número de pessoas que gaguejam ultrapassa a casa dos 60 milhões.
Essas estatísticas foram apresentadas no 1º Encontro Pernambucano de Atenção à Gagueira, na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), abrindo a Semana Internacional da Gagueira desse ano de 2010.

A gagueira , também chamada de disfemia, está codificada na “Classificação Internacional de Doenças” (CID-10) com os caracteres F98.5.
Assim sendo, a gagueira é cientificamente considerada como distúrbio ou transtorno de fluência da fala.
Ainda não se sabe com certeza a causa determinante da gagueira.
Algumas pesquisas apontam que a gagueira não tem uma única causa, podendo ser causada por vários fatores.
Existe o fator genético, que geralmente faz com que mais de um membro de uma mesma família seja afetado.
Existe o fator orgânico que se refere a situações onde o cérebro da criança foi agredido (por exemplo, partos muito demorados podem causar uma diminuição momentânea da oxigenação do cérebro do bebê e isso pode estar ligado ao aparecimento da gagueira no futuro).
Existe o fator social, o qual pode ser favorável ao aparecimento da gagueira quando o ambiente familiar ou escolar é muito agitado, quando as pessoas falam muito rápido ou com uma complexidade lingüística muito maior do que é adequada à idade da criança.
Por fim, existe o fator psicológico que pode fazer com a pessoa tenha insegurança ou medo na hora de falar; é importante deixar claro que alguns sintomas psicológicos são causa e outros são conseqüências da gagueira.
Os modelos mais aceitos no meio científico, no entanto, consideram a causa da gagueira como multifatorial, ou seja, todos estes fatores estariam envolvidos, em maior ou menor grau (dependendo do caso).
Mas estudos já confirmaram que fatores genéticos e nervosos podem contribuir para o agravamento do quadro e que o apoio da família e dos amigos, associado a tratamento fonoaudiológico e psicoterápico, pode reduzir os impactos econômicos, psicológicos e sociais que a patologia causa.

A gagueira é involuntária. A pessoa que gagueja não tem controle sobre a sua fala e muitas vezes não consegue evitar que aconteça, por mais que se esforce.
Ocorre uma dificuldade no cérebro em sinalizar o término de um som ou de uma sílaba e passar para o próximo som ou sílaba.
Explicando melhor: a pessoa consegue iniciar a palavra, mas sua fala “prende-se” em algum som ou sílaba (geralmente o primeiro) até que o cérebro consiga gerar o comando necessário para dar prosseguimento com o restante da palavra.
A pessoa, durante essa dificuldade do cérebro em gerar comandos para terminar um som ou sílaba no tempo previsto, apresenta manifestações: bloqueios, prolongamentos e/ou repetições de sons ou sílabas, e algumas outras vezes vem acompanhados por expressões faciais e corporais (os chamados “tics” ou comportamentos de apoio).
Em alguns casos de gagueira, essas manifestações externas não ocorrem ou ocorrem com pouca freqüência, caracterizando o que é conhecido como "gagueira encoberta".
Os sintomas e as sensações variam de pessoa pra pessoa. Como sintomas externos, a pessoa sente tensão muscular (no caso dos bloqueios) ou sente que não consegue mexer a língua ou os lábios (no caso dos prolongamentos e das repetições), ou ainda tremores na ponta da língua e mandíbula. Além disso, também há o lado emocional, onde a pessoa sente vergonha, raiva ou muitas vezes, grande frustração por não conseguir falar como deseja.

A fala é o meio de comunicação mais utilizado durante o nosso dia-a-dia.
Através da fala, buscamos atingir objetivos específicos, como: transmitir informações, exercer influência e poder, oferecer soluções para problemas, cultivar o humor, refletir sobre a estética dos ambientes, estimular o pensamento.
E uma pessoa que gagueja geralmente evita falar, e isso interfere quantitativa e qualitativamente nos objetivos atingidos.
Por exemplo: Num ambiente de trabalho, se a pessoa fala menos, seus colegas e chefes poderão não saber quais são seus verdadeiros interesses (o que pode comprometer o cargo que a pessoa ocupa), ela pode não defender seus pontos de vista (fazendo com que colegas e chefes não saibam o quanto ela pode ser inteligente e coerente), pode não conviver socialmente com os colegas como gostaria (sendo considerado “o isolado da turma”). No ambiente escolar, a pessoa que gagueja tende a participar menos durante as aulas, tende a não gostar de leituras em voz alta e provas orais, evita apresentação em seminários e discussões orais, o que interfere em suas notas e no desenvolvimento de seu potencial. No ambiente familiar, a pessoa que gagueja pode participar pouco das decisões familiares e pode discutir menos sobre situações que a desagradam, fazendo com que se sinta frustada. Com esses exemplos, já é possível perceber claramente que a gagueira pode afetar muito negativamente a vida de uma pessoa.

Na criança, a gagueira geralmente inicia entre 2 e 4 anos de idade. Na maioria dos casos, ocorre uma melhora espontânea em curto espaço de tempo após o aparecimento dos primeiros sintomas, sem mesmo ser necessário qualquer intervenção terapêutica. Mas não há como prever se essa melhora espontânea vai ocorrer ou não.
Alguns dos fatores que aumentam o risco da dificuldade perdurar são: sexo masculino, casos na família de gagueira ou fala rápida, presença de esforço para falar, recusa a situações de fala, a existência de outros familiares com gagueira, a ocorrência de complicações durante o parto (prematuridade, baixo peso ao nascer, hipóxia), ocorrência de traumatismo craniano com perda temporária da consciência, dentre outros.
Diante de um caso infantil, logo que surgem os primeiros sintomas da gagueira, o correto é os pais levarem a criança para ser avaliada por um fonoaudiólogo especializado em gagueira para saber se é mais alta a chance de a gagueira melhorar ou persistir, e também para que os pais sejam orientados quanto as condutas adequadas a serem tomadas diante das manifestações de gagueira, não incentivando que o quadro se instale.
Após uma avaliação específica, se o risco para gagueira for baixo, um acompanhamento periódico poderá ser feito, no qual se observará clinicamente a evolução da fluência da criança. Se o risco para gagueira for alto, o tratamento pode ser iniciado imediatamente, independente da idade da criança.
Não existe idade ideal para procurar ajuda profissional, devendo-se considerar a época em que a gagueira se manifestou na criança.
Os pais podem procurar atendimento com fonoaudiólogo especializado assim que a gagueira se manifestar.
Em qualquer idade, a gagueira tem tratamento. No entanto, quanto mais precoce a intervenção, maiores são as possibilidades de obter melhores resultados.
A Fonoaudiologia e outras especialidades médicas, dispõem de técnicas e procedimentos específicos para tratar a gagueira.
Até o momento, não existe nenhum tratamento que realmente cure a gagueira (no sentido de fazer com que a gagueira desapareça completamente sem que o indivíduo precise tomar nenhum cuidado adicional com sua fala).
Os tratamentos disponíveis não garantem uma “cura” completa e sim, promove uma diminuição significativa da gagueira, muitas vezes passando-se despercebível, mas poderão persistir alguns resquícios, mesmo que leves.
A terapia fonoaudiológica promove mudanças na maneira como o cérebro processa a fala. Isso pode ser comprovado através de exames de neuroimagem funcional. A terapia fonoaudiológica desencadeia mudanças funcionais no cérebro (melhoras tanto na fluência em si, como na forma de lidar com a gagueira), ativando regiões cerebrais que estavam menos ativadas.
Existem dois aspectos cruciais para se ter sucesso em terapia fonoaudiológica para a gagueira:
-Encontrar um profissional realmente capacitado para tratar gagueira.
Ser capacitado para tratar gagueira é diferente de ser habilitado para tratar gagueira.
Em princípio, todos os fonoaudiólogos estão habilitados para tratar gagueira. Entretanto, apenas uma minoria se especializa no tratamento da gagueira.
Dê prioridade para fonoaudiólogos especializados.
- A pessoa que gagueja e sua família devem estar suficientemente motivados e decididos para o tratamento. Durante a terapia fonoaudiológica, é necessário observar e analisar a gagueira, modificar atitudes frente à gagueira e treinar novos padrões de fala para que se alcancem resultados satisfatórios. Portanto, motivação e determinação são essenciais para que resultados positivos sejam alcançados.

A gagueira não impede ninguém de estabelecer vínculos com outras pessoas e de namorar, porque a gagueira não incapacita o indivíduo para expressar suas emoções e afetos.
O indivíduo que gagueja deve enfrentar a sua dificuldade de fala, enfrentar a realidade, buscar apoio e tratamento profissional, e não se furtar à vida em função de seu distúrbio de fala.

Geralmente são realizadas uma ou duas sessões por semana, com duração de 40 a 50 minutos cada.
O tempo de terapia depende de uma série de fatores, tais como: intensidade da gagueira, presença de outros distúrbios de fluência e/ou de linguagem, presença de outros distúrbios neurológicos ou psiquiátricos, idade do paciente, aderência do paciente ao tratamento e grau de especialização do fonoaudiólogo. Em média, os tratamentos duram de seis meses (casos mais leves) até dois anos (casos mais graves).
O fato de ter feito um tratamento fonoaudiológico para gagueira não implica nunca mais cogitar outro tratamento.
A gagueira pode se modificar ou se agravar com o passar do tempo devido ao surgimento de outras doenças, a novas experiências estressantes que foram vivenciadas ou ao próprio envelhecimento.

Embora ainda algumas pessoas relacionem a gagueira como sendo um distúrbio psicológico, tal concepção é inadequada.
Cientificamente a gagueira é considerada um distúrbio da fluência da fala, cujos sintomas geralmente surgem entre a primeira infância e o início da adolescência.
Assim, sendo um distúrbio da fluência da fala, deve ser tratada pelo fonoaudiólogo.
O psicólogo não possui formação para tratar de distúrbios da fala ou da fluência.
O profissional capacitado para tal tratamento é o fonoaudiólogo. Volto a ressaltar que nem todo fonoaudiólogo sabe tratar a gagueira.
A pessoa que gagueja não apresenta, necessariamente, qualquer problema psicológico e nem terá que se submeter obrigatoriamente a uma psicoterapia.
No entanto, há um tipo específico e extremamente raro de gagueira cuja causa é psicológica: a gagueira psicogênica. Este tipo de distúrbio não deve ser confundido com a gagueira que aparece durante a infância e a adolescência.
A gagueira psicogênica surge em adultos que, após um trauma psicológico, começam a gaguejar, embora nunca em sua vida tenham manifestado a gagueira. São indivíduos que, até antes do trauma sofrido, não tinham gagueira.
E nesse caso específico de gagueira psicogênica, a terapia psicológica é eficiente e necessária, contribuindo para o desaparecimento total dos sintomas e para a remissão do problema, porque se trata de um distúrbio cuja causa é psicológica.
E como o próprio nome já diz (gagueira psicogênica) não é um distúrbio da fluência da fala, mas um distúrbio psicológico, portanto não deve ser tratada por fonoaudiólogo, mas por psicólogo.
Em alguns casos, diante de um quadro de gagueira hereditária ou lesional, se os sintomas estiverem afetando negativamente a vida da pessoa em outras áreas, além da fala, é aconselhável procurar ajuda psicológica.
Em outras palavras: Quem trata da gagueira é o fonoaudiólogo. O psicólogo pode tratar dos problemas pessoais e sociais que decorram da gagueira,

Porém, vale lembrar que não há distinção com relação à indicação da psicoterapia para quem gagueja ou para quem não gagueja.
Recomenda-se a psicoterapia para qualquer pessoa, independentemente de gaguejar ou não gaguejar, quando, se deseja se conhecer melhor ou ainda quando se busca enfrentar ou resolver algum conflito na relação consigo mesmo ou com os outros.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

A criança que gagueja na escola: o que fazer??

A criança que gagueja na escola: orientação aos professores:

Os professores frequentemente mencionam dificuldades para decidir o que fazer com uma criança que gagueja na classe.
Por exemplo...
Até que ponto e em que situação deve-se pedir para essa criança ler em voz alta?
Deve-se conversar sobre a sua fala ou o melhor é ignorar o fato?
O que fazer se outra criança ridicularizá-Ia?
Essas são apenas algumas das perguntas normalmente feitas pelos professores.

A criança na pré-escola
Todas as crianças nesta idade estão aprendendo a falar, assim sendo, cometem erros de fala.
Nós chamamos estes "erros" de disfluências.
Algumas crianças as apresentam mais que outras, mas isto é normal.
Algumas crianças, contudo, apresentam muitas disfluências -particularmente repetições e prolongamentos de sons. Essa característica é bastante perceptível ao ouvinte.
Se você estiver preocupada com alguma criança que esteja passando por isso, não dê muita atenção ao problema neste momento.
Converse com um fonoaudiólogo especializado no assunto (se possível, peça orientação para ele). Também converse com os pais sobre a opinião deles em relação ao problema; de maneira que eles aceitem e apoiem as atitudes que você tiver.
Na maioria das vezes, se as pessoas envolvidas ouvirem e responderem para a criança de uma maneira paciente, calma e sem emoções negativas, a fala da criança deverá voltar ao normal, assim como suas habilidades linguísticas e de adaptação na escola, melhorarão.

A criança no 1º grau
Existem crianças nesta faixa etária que não só repetem e prolongam os sons, mas também apresentam esforço, tensão e frustração ao falar. Essas crianças precisam de ajuda.
Sem ajuda, esse problema (gagueira) poderá afetar sua performance na classe.
Como sugerido com as crianças na pré-escola, se a escola tiver um fonoaudiólogo em sua equipe, consulte-o e converse com os pais para que todos abordem o assunto da mesma maneira.
Uma das maiores preocupações do professor é a reação da criança à sua gagueira na classe.
Não existem regras sobre a participação na classe.
Em um extremo está a criança que está despreocupada e gosta de participar como qualquer outra criança, no outro está aquela criança que chora e não quer falar.
A maioria tem uma atitude intermediária.

Falando com a criança: mostre seu apoio
É aconselhável que se fale com a criança em particular.
Explique a ela que quando aprendemos a falar - como quando aprendemos qualquer outra coisa na escola - cometemos erros.
Nós repetimos sons e nos enrolamos com as palavras.
Com a prática, nós melhoramos.
Explique que você é a professora, uma amiga e que a gagueira não lhe incomoda.
Você quer que ela fale para poder saber o que ela sente, o que ela pensa, o que ela aprendeu e o que quer aprender sobre os assuntos.
Conversando desta maneira com a criança, você fará com que ela saiba que você percebeu que ela gagueja que aceita esse fato e que aceita a criança como ela é.

Respondendo a perguntas
Enquanto estiver fazendo perguntas à classe, você pode fazer coisas que facilitem a situação para a criança que gagueja:
- Inicialmente, até que a criança se ajuste à classe, faça perguntas que ela possa responder com poucas palavras.
- Se forem feitas perguntas para todas as crianças da classe, chame a criança que gagueja logo. Quanto mais a criança esperar mais a tensão e a preocupação aumentarão.

Reforce com toda classe que:
(1) terão quanto tempo for necessário para responder a pergunta que for feita;
(2) que é de seu interesse que elas pensem nas respostas e não respondam às perguntas rapidamente.

Lendo em voz alta na classe
Muitas crianças que gaguejam são capazes de lidar satisfatoriamente com a leitura em voz alta na classe, principalmente se forem encorajadas a praticarem em casa.
Algumas, contudo, irão gaguejar severamente durante a leitura.
As sugestões que seguem poderão ajudar essas crianças:
A maioria das crianças que gaguejam se tornam fluentes quando a leitura é realizada em uníssono com outra pessoa.
Ao invés de não chamar a criança que gagueja para ler, peça que ela o faça junto com um colega. Deixe que a classe toda leia em dupla de vez em quando, dessa forma a criança que gagueja não se sentirá "especial".
Gradualmente ela poderá se tornar mais confiante e conseguirá realizar a leitura em voz alta, sozinha.

Caçoada e ridicularização
A ridicularização pode ser bastante dolorosa para a criança que gagueja e deve ser eliminada.
Se a criança estiver triste em decorrência da ridicularização, fale com ela.
Mostre que muitas crianças são ridicularizadas por diversas razões.
Fale para a criança tentar não levar as gozações a sério.
Se uma criança em particular estiver fazendo as gozações, fale com essa criança em particular e explique que a gagueira é muito ruim para quem tem o problema e que só piora com as gozações.

Tente fazer com que as crianças passem a ajudar aqueles que gaguejam.
Como a maioria das crianças quer a aprovação de sua professora, você poderá fazer um plano de como os colegas poderão ajudar às crianças que gaguejam.
Punir os alunos pela gozação que fazem não ajudará.

Fonoterapia
Se não houver um fonoaudiólogo disponível na escola, sugira que os pais procurem um profissional com especialização na área.
Se estiver em São Paulo, poderão entrar em contato com o Laboratório de Investigação Fonoaudiológica da Fluência e suas Desordens (São Paulo), pelo telefone (011) 818-7453.
Será agendada uma triagem para a criança que será entrevistada por um fonoaudiólogo especialista em gagueira.
Caso você esteja longe de São Paulo, procure um Serviço de Fonoaudiologia em sua cidade.
Exija um especialista, não é qualquer profissional que sabe tratar das gagueiras infantis.
Essas atitudes são algumas sugestões.

Tenha sempre em mente que cada criança é uma e que você, agindo positivamente, poderá fazer uma grande diferença para que a criança supere seu problema.
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Este material foi produzido pela STUTTERING FOUNDATION OF AMERICA, que autorizou sua tradução e distribuição pelo Laboratório de Investigação Fonoaudiológica da Fluência e das Desordens da Fluência, do Curso de Fonoaudiologia da FMUSP, coordenado pela Profa Dra. Claudia Regina Furquim de Andrade. A responsável pela tradução foi a Fga. Femanda Chiarion Sassi.

É IMPORTANTE SABER:
-->A Stuttering Foundation of America é uma organização sem fins lucrativos, fundada em 1947 nos EUA, que tem como objetivo ajudar as pessoas com gagueira.
-->O Laboratório de Investigação Fonoaudiológica da Fluência e das Desordens da Fluência é um centro de pesquisas do Curso de Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, que tem como objetivo, além da realização de pesquisas, promover ações de prevenção e tratamento das gagueiras e também capacitar fonoaudiólogos (especialização, mestrado e doutorado) nessa área da comunicação humana.
Tanto os profissionais, quanto as famílias e escolas podem procurar o Laboratório sempre que necessário.

Possíveis causas da Gagueira

Causas:

Veja o que renomados profissionais escreveram sobre as causas da gagueira.
Estes textos participaram do II Fórum Online da ABRA GAGUEIRA e você poderá ver as perguntas e respostas ao final de cada um deles.

A Gagueira e suas causasMônica M. de Britto Pereira
Afinal, o que causa a gagueira?Fernanda Papaterra Limongi
Apresentação do fórum online e instruções sobre como participarComissão Organizadora
As Causas da Gagueira e a Clínica FonoaudiológicaEliana Maria Nigro Rocha
Causa da Gagueira: por que ou para quê?Roberta Ecleide de Oliveira Gomes Kelly
Causas da GagueiraSilvia Friedman
Causas da GagueiraÍsis Meira
Causas da GagueiraBeatriz Ferriolli
Causas da GagueiraAnelise Junqueira Bohnen
Causas neurofisiológicas da gagueiraSandra Merlo
Considerações sobre a causa da gagueira na Clínica de LinguagemPolyana Silva de Oliveira
Considerações sobre as causas da gagueiraRegina Jakubovicz
GagueiraAna Alvarez e Maura Sanchez
Neurofisiologia da gagueira - alguns estudosLetícia Correa Celeste
Origem da gagueira sob a perspectiva linguístico-discursivaNadia Azevedo
Perfil Familiar e GagueiraClaudia Regina Furquim de Andrade

Dicas para a pessoa que gagueja

Dicas:
Usando o Telefone
Muitas pessoas, que gaguejam ou não, têm dificuldade em usar o telefone.
Ouça alguns "não-gagos" falando ao telefone. Alguns levam vários segundos para responder. Outros fazem "É...", "Hum..." e "Ah..." com frequência.
Outros, ainda, gesticulam muito, fazem caras e bocas ou falam excessivamente alto e de forma agressiva.
Usar o telefone pode causar uma grande dose de angústia e cada pessoa deve aprender a lidar com esta angústia de sua própria maneira.
Se você gagueja e tem problemas para usar o telefone, você poderá achar muito úteis os conselhos a seguir.

1- LIGANDO PARA OUTROS
Fazer uma ligação pode dividir-se em três fases: preparação, ligação em si e avaliação da forma como você agiu.
PREPARAÇÃO--->Tenha certeza que sabe porque está ligando.
Escreva os pontos principais em um papel e mantenha-o sempre à sua frente ao ligar.
Tente ligar para um amigo ou parente antes da "grande ligação". Isto pode te ajudar a relaxar.
Se você tem várias ligações para fazer, liste-as em ordem de importância.
Comece com a mais fácil e vá seguindo até a mais difícil.
Nunca adie uma ligação que precisa ser feita. Isto só tornará tudo mais difícil e estressante.

A LIGAÇÃO --->Frequentemente a parte mais difícil é pedir para falar com a pessoa certa.
Se você liga para uma empresa, por exemplo, pode ser mais fácil pedir para falar com tal ramal ou algum departamento específico do que dizer o nome de alguém.
Tenha algumas primeiras palavras alternativas para iniciar a conversa; seja flexível naquilo que quer dizer.
Se você começar a bloquear, gagueje abertamente, suavemente e facilmente; tente não forçar as palavras e, mais importante, lembre-se de falar devagar.
Não se preocupe com silêncios; eles ocorrem em todas as conversas.
Concentre-se naquilo que tem a dizer, em vez de se preocupar com bloqueios.
Seu propósito é comunicar, seja gaguejando ou não.
Preste atenção nos momentos de fluência.
Muitos gagos se esquecem dos momentos de fluência e se debruçam na gagueira.
Saboreie sua fluência; faça outras ligações quando estiver se sentindo mais fluente; aproveite que já está no ritmo.
Fala fluente traz confiança e confiança traz fala fluente.
Observar-se num espelho enquanto telefona pode ser útil, já que você poderá notar onde reside a tensão em seu rosto e outras partes do seu corpo.
Se você perseverou em uma ligação difícil e a comunicação fluiu bem, elogie-se, adore-se e lembre a sensação gostosa que a ligação bem-sucedida lhe trouxe.

AVALIAR A FORMA COMO VOCÊ AGIU --->A maioria das pessoas, não apenas aquelas que gaguejam, às vezes fazem ligações quando não estão num momento tão fluente ou não conseguem passar sua informação adiante.
Se você sentiu que uma ligação em particular foi estressante e você gaguejou mais que o normal, tente esquecer. Adote uma posição positiva.
Lembre que em outras conversas você gaguejará menos.
Não é um desastre completo gaguejar e você pode aprender com cada experiência.
Em casa, grave suas conversas telefônicas, se puder.
Observe atentamente sua fala, especialmente a velocidade e o caminho que o levou a quaisquer bloqueios.
Tente aprender com cada gravação e prepare uma estratégia para a próxima ligação.
Fazer isto durante um período o ajudará a identificar problemas recorrentes e palavras problemáticas.

RECEBENDO UMA LIGAÇÃO --->Esta é a área em que você tem menos controle.
No entanto, mesmo aqui você pode encontrar meios de diminuir a pressão que pode vir a sentir. Sempre atenda a ligação no seu próprio tempo.
Não corra para o telefone.
De novo, tenha palavras-chave prontas: seu número de ramal, nome da empresa ou mesmo apenas seu nome.
Use o que for mais fácil para você no momento.
Se você receber uma ligação perto de outras pessoas, concentre-se apenas na ligação.
Aceite que outras pessoas podem ouvir e ver seu bloqueio, mas não permita que sua presença o distraia da ligação recebida.
Não tenha medo de silêncios logo no início da ligação, se você forçar e não sair a primeira palavra.
É comum alguém atender ao telefone e não dizer nada, ou porque está finalizando uma conversa com um colega ou porque atendeu o telefone de outra pessoa e está esperando a pessoa voltar ao seu lugar.
A pessoa que está ligando talvez também gagueje.
Seja paciente com outros, que podem estar tão ansiosos quanto você e, quem sabe, praticando alguns dos conselhos acima.

CONSELHOS GERAIS:
Praticar o fará sentir-se melhor sobre usar o telefone;
Enfrente seu medo do telefone. Fale sobre este medo e sobre o que você pode fazer a respeito;
Tente estar ciente das situações nas quais você evita o telefone e, gradualmente, as encare. Faça o máximo possível de ligações, para praticar. Escolha usar o telefone, em vez de enviar e-mails;
Em casa, tente ser a pessoa que atende os telefonemas;
Admita abertamente que você gagueja. Isto pode ser muito difícil se você evitou falar do assunto a vida toda. Pratique falar sobre a gagueira. Muitos relataram que falar sobre a gagueira reduziu a ansiedade e o medo.
Observe e escute "não-gagos" usando o telefone. Ouça a falta de fluência e suas hesitações;
Dê aos outros o beneficio da dúvida. Se eles sabem que você gagueja então estão preparados para possíveis silêncios.
Finalmente, pratique, pratique e pratique. Não deixe que este pedaço de plástico moderno domine sua vida.
É bem melhor usar o telefone e gaguejar do que evitar usá-lo.

(Traduzido por Fernando Jefferson Pereira do texto adaptado e publicado pela British Stammering Association -- http://www.abragagueira.org.br/dicas_visualizar.asp?id=1)

Tratamentos para a Gagueira

Tratamentos
Existem diversas linhas de tratamento para a gagueira.
Para saber com qual você se identifica mais, gostaríamos de sugerir a leitura dos textos sobre tratamento, escritos por renomados profissionais especializados em gagueira.

Estes textos participaram do I Fórum Online da ABRA GAGUEIRA e você poderá ver as perguntas e respostas ao final de cada um deles.

A Re-Adaptação Lingüística na Terapia da GagueiraMônica Medeiros de Britto Pereira
Aspectos Auditivos da Gagueira: Avaliação e TratamentoAna Maria Schiefer
Como Eu Vejo e Como Eu Trato a GagueiraRegina Jakubovicz
Contribuições da Análise de Discurso na Clínica da GagueiraBeatriz Ferriolli
Escolha de Objetivos Terapêuticos para Distúrbios de Fluência: Programa ou Processo?Anelise Junqueira Bohnen
Gagueira: Uma, Dentre as Possíveis Abordagens PsicanalíticasMaria Cláudia Cunha
Intervenção Fonoaudiológica na Gagueira: Considerações GeraisCristiane Moço Canhetti de Oliveira
Ressignificar a Imagem de FalanteSilvia Friedman
Terapia Fonoaudiológica para Gagueira em Crianças e AdultosEliana Maria Nigro Rocha
Tratamento Neurolingüísticomotor da GagueiraClaudia Regina Furquim de Andrade, Fernanda Chiarion Sassi e Fabíola Juste

Gagueira

Gagueira Infantil
Se você acha que seu filho está gaguejando, clique aqui!

Veja o que renomados profissionais escreveram sobre a gagueira infantil.
Estes textos participaram do III Fórum Online da ABRA GAGUEIRA e você poderá ver as perguntas e respostas ao final de cada um deles:

Gagueira InfantilAna Maria Schiefer
Gagueira InfantilFernanda Papaterra Limongi
Gagueira InfantilIsis Meira
Gagueira InfantilRoberta Ecleide Oliveira Gomes-Kelly
Gagueira InfantilSilvia Friedman & Polyana Oliveira
Orientações à família da criança que gaguejaAnelise Junqueira Bohnen
Pais e Professores: Como AjudarDaniela Veronica Zackiewicz
Parceria entre fonoaudiólogo e familiares na gagueira infantilCristiane Moço Canhetti de Oliveira
Prevenção da gagueiraRegina Jakubovicz

Gagueira: Dicas para pais e professores

Resumo
O sucesso no tratamento da gagueira infantil depende, em grande parte, das atitudes dos pais e professores.
Neste artigo será abordado o papel do professor na identificação do problema, orientando sobre quando é o melhor momento para ajudar e, principalmente, como abordar o problema no convívio com a criança.

A gagueira infantil ainda é tema de muitas dúvidas por parte de pais e professores e, o que pode ser considerado ainda mais problemático, é que a gagueira ainda é tratada, erroneamente, como uma coisa normal, ou como um problema exclusivamente de fundo emocional, causado pelos pais, pelo nervosismo ou pela timidez.

Atualmente muitas pesquisas têm sido realizadas sobre as causas da gagueira, sendo que as teorias mais atuais apontam para uma causa multifatorial, onde os aspectos genéticos e de processamento cerebral apresentam tanta influência quanto os aspectos psicossociais no desenvolvimento desta patologia.

O avanço científico na área da gagueira faz com que, cada vez mais, seja necessária a intervenção de um profissional especializado e que, os famosos truques e dicas, bem como a "sabedoria popular" caiam progressivamente em desuso, dando espaço a técnicas elaboradas e efetivas.

Nessa perspectiva, o PROFESSOR é, sem dúvida uma pessoa chave na detecção imediata do problema e também uma pessoa de grande importância para o sucesso do tratamento, dando suporte à criança nas atividades escolares e na sua integração social.

Como e quando ajudar?
Buscar um profissional competente e especializado é o mais indicado para quando começamos a perceber que uma criança está apresentando muitas rupturas, tensões ou esforço ao falar.

Na idade pré-escolar os "erros" na fala ainda são bastante comuns e, até certo ponto, aceitáveis dentro do processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem.
Os mais relacionados à gagueira e que merecem atenção são as repetições de palavras, sílabas e sons, os prolongamentos de vogais e os bloqueios, principalmente quando acompanhados de esforço, movimentação facial ou corporal.
É comum crianças apresentarem estes comportamentos típicos da gagueira por apenas alguns meses e depois voltarem ao normal sem nenhuma intervenção.
Mas se dentro de seis meses não houver melhora pode ser um indicativo de que realmente seja um caso de gagueira.

Já na idade escolar as disfluências são sempre preocupantes e essas crianças precisam de ajuda especializada imediata.
Sem essa ajuda a gagueira poderá realmente afetar seu desempenho na escola e seu bem-estar pessoal.
Algumas atitudes dos professores podem ajudar a criança disfluente a passar por esta fase de maneira mais harmoniosa.

Outras atitudes podem, de fato, ter impacto negativo como, por exemplo:
-->falar para a criança parar de gaguejar, pensar antes de falar, respirar, ter calma, começar a frase de novo, mudar seu tom de fala, sugerir que a criança evite as palavras difíceis, responder pela criança ou completar suas frases.
Além disso, demonstrar estar desconfortável, impaciente ou irritado com a forma da criança falar pode ser tão prejudicial como fingir que a disfluência não existe.

Ao invés disso, procure conversar com a criança em particular, explicando que você sabe que ela está apresentando dificuldade para falar, mas que você é seu professor, seu amigo e que a gagueira não lhe incomoda. Diga que você quer que ela fale para saber o que ela sabe, o que ela aprendeu e o que quer aprender sobre os assuntos.
Conversando com a criança desta maneira ela saberá que você percebeu que ela gagueja, que aceita esse fato e que a aceita como ela é.

-->Incentive a participação da criança nos dias em que ela estiver mais fluente.
-->De vez em quando peça para a classe toda (e não apenas ela, para que não se sinta "especial") faça a leitura em dupla, em voz alta, pois lendo em uníssono provavelmente ela não irá gaguejar.
-->Quando for fazer perguntas à classe chame-a logo, para que a tensão não aumente.
-->Sempre que possível reforce para a classe toda que TODOS terão o tempo que for necessário para responder.

-->Outra atitude muito benéfica é reduzir a própria velocidade de fala, fazendo pausas de maneira mais demarcada.

-->Mantenha um contato de olho natural e procure, sempre, prestar mais atenção ao conteúdo que está sendo dito do que à sua forma.

Estas são apenas algumas dicas de como ajudar uma criança com gagueira que devem ser utilizadas com bom senso e considerando as individualidades de cada caso.

Com uma participação positiva dos professores e com a cooperação da família teremos sempre um melhor prognóstico no tratamento das gagueiras infantis.
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Texto de : Daniela Veronica Zackiewicz é fonoaudióloga clínica da Unidade Avançada Einstein Alphaville, especialista em Saúde Coletiva e mestre em Ciências pela Faculdade de Medicina da USP.
É associada fundadora e presidente da Associação Brasileira de Gagueira (ABRA GAGUEIRA), cujo objetivo principal é melhorar a qualidade de vida das pessoas com gagueira, quer através de ações especializadas para esses indivíduos, quer através de ações educativas para a população em geral.
Fonte: http://www.abragagueira.org.br/paraprofessores_1.asp

Direitos das pessoas que gaguejam

Direitos e responsabilidades das pessoas que gaguejam:

1- O direito de gaguejar ou ser fluente na medida da possibilidade ou escolha do indivíduo;
2- O direito de ser tratado com dignidade e respeito por outros indivíduos, grupos, instituições e pela mídia, independentemente do grau de severidade da gagueira;
3- O direito de estar protegido pelas leis e regulamentos da sociedade independentemente do grau de severidade da gagueira;
4- O direito de ser informado sobre programas terapêuticos, incluindo informação sobre estimativas de sucesso, de falha ou de recidiva;
5- O direito de protesto para que os termos das leis lhes garantam um tratamento de dignidade e respeito;
6- O direito de receber terapia adequada, respeitando as necessidades e características individuais, fornecida por profissionais especialmente treinados para o tratamento da gagueira e problemas associados;
7- O direito de escolher e participar da terapia - a escolha de não participar, ou a escolha de trocar de metodologia ou de terapeuta sem sofrer qualquer prejuízo ou penalidade;

8- A responsabilidade de compreender que os ouvintes ou parceiros de conversa podem não estar informados sobre a gagueira e suas ramificações, ou que eles podem ter uma visão diferente sobre a gagueira do que a maioria das pessoas que gaguejam;
9- A responsabilidade de diferenciar as reações dos ouvintes ou parceiros de conversa que resultam da falta de percepção ou falta de conhecimento adequado sobre a gagueira (ex: reação de surpresa ou comentários que visam ajudar a pessoa que gagueja, sendo estes apropriados ou não) daquelas reações que resultam da falta de respeito e justiça (ex: ridicularização, gozação ou discriminação);
10- A responsabilidade de informar os ouvintes ou parceiros de conversa se um tempo maior for necessário para se comunicar;
11- A responsabilidade de ingressar numa parceria com um provedor de serviço clínico qualificado com quem o indivíduo tenha um contrato, escrito ou não, e assumido de livre e espontânea vontade, para um relacionamento clínico colaborativo;
12- A responsabilidade de fazer o que for possível para superar as dificuldades da vida que surgiram em decorrência da gagueira, incluindo o desenvolvimento de uma percepção realista dos pontos fortes e fracos individuais, e o desenvolvimento de um senso de humor saudável a respeito de si mesmo;
13- A responsabilidade de auxiliar sempre que possível na educação do público sobre a gagueira e alterações associadas;
14- A responsabilidade de levar em consideração e tratar outros indivíduos que tenham diferenças, problemas, inabilidades ou impedimentos com justiça, com dignidade e respeito, independentemente da natureza de suas condições.

Fonte: Andrade, CRF de; Sassi, FC (Trads). Direitos e Responsabilidades das Pessoas que Gaguejam. Pró-Fono, 13(1): 133, 2001.

Direitos da Criança que gagueja

Direitos das crianças que gaguejam
01 Direito de falar e gaguejar
02. Direito de ser escutado
03. Direito de não ser gozado ou discriminado
04. Direito de ser integrado
05. Direito de ter uma professora que tenha informações sobre a gagueira
06. Direito de ter tempo para falar
07. Direito de não ser interrompido
08. Direito de que ninguém o olhe de forma estranha
09. Direito de não ser pressionado nem apressado para falar
10. Direito de ser avaliado pelo que sabe e não pelo que diz
11. Direito de que ninguém termine suas frases nem fale por ele
12. Direito de manter-se calado ou falar menos
13. Direito de não ser corrigido
14. Direito de não lhe ser exigido que fale fluentemente
15. Direito de não receber dicas ou indicações enquanto fala
16. Direito de não ser castigado por sua fala disfluente
17. Direito de que sua professora cuide de sua auto-estima e de sua auto-valorização
18. Direito de que a escola integre todas as diferenças
19. Direito de ler com outro companheiro
20. Direito de ler em voz alta diante de seus companheiros e ser escutado
21. Direito de falar com seus companheiros sobre sua dificuldade, se assim o desejar
22. Direito de falar ao telefone gaguejando
23. Direito de escolher participar de festas escolares de qualquer tipo
24. Direito de não ser pressionado nem afetiva nem intelectualmente
25. Direito de ser tratado do mesmo modo que qualquer criança
26. Direito de não ser considerado bobo ou incapaz
27. Direito de receber tratamento
28. Direito de que se respeite no colégio o equilíbrio entre sua capacidade e a demanda intelectual
29. Direito de que o tema da gagueira seja tratado com naturalidade dentro e fora do colégio
30. Direito de levar ao colégio informação sobre o "Dia Internacional de Atenção à Gagueira"
31. Direito de informar às outras crianças
32. Direito de falar no microfone
33. Direito de falar com outras crianças disfluentes da escola
34. Direito de formar grupos escolares que incluam esta e outras diferenças
35. Direito de sentir-se seguro e à vontade na escola

FONTE: "TARTAMUDEZ: UNA DISFLUENCIA CON CUERPO Y ALMA", de BEATRIZ TOUZET.
Traduzido e adaptado por Eliane Regina Carrasco, diretora da ABRA GAGUEIRA, fonoaudióloga e coordenadora dos grupos de apoio da ABRA GAGUEIRA.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Saúde Vocal do Professor


Saúde Vocal do Professor:

O enfoque do presente artigo é a importância dos cuidados que se deve ter com a nossa voz.
Enfoque principal ao professor, que possui a voz como instrumento de trabalho.
Os assuntos priorizados visam ao entendimento da anatomia e fisiologia da voz, os
maus hábitos vocais e seus implicadores, além de algumas orientações.
O artigo tem a finalidade de conscientizar e orientar esses
profissionais da voz a zelar por seu mais valioso instrumento de trabalho, promovendo, assim, uma melhor qualidade de vida, visto que a saúde vocal depende de diversos fatores, sendo o mais importante deles o estilo de vida do professor.
1. INTRODUÇÃO
Dentre as profissões com maior incidência de problemas vocais está, de acordo com estudos, a do professor, uma vez que as condições de uso vocal e os seus cuidados são, em grande
parte, inadequados em relação a este profissional.
Justifico esta afirmação com os seguintes fatores:
->uso constante da voz durante horas,
->competição vocal
->e intensidade elevada.
O efeito do mau uso vocal pelo professor varia desde uma alteração imperceptível auditivamente até desvios vocais severos que, muitas vezes, chegam a impedir a atuação profissional.
Contudo, sendo a voz o seu instrumento de trabalho, há necessidade de usá-la várias horas seguidas, vários meses ao ano, por muitos anos de exercício profissional.
Sendo os professores profissionais que utilizam a voz como principal veículo de transmissão dos seus conhecimentos, é imprescindível que tomem consciência e compreensão do ato, visto
que sua voz torna-se sensível e vulnerável em relação ao tempo e ao uso indiscriminado se não forem adotados os devidos cuidados especiais.
O abuso ou o mau uso da voz danifica os tecidos laríngeos, podendo produzir um distúrbio vocal devido as atividades verbais utilizadas pelos profissionais
da voz serem incompatíveis com a saúde vocal.
Desta forma, a fonoaudiologia, quando se direciona à prevenção das doenças da comunicação, garante ao ser humano a prevenção da faculdade primordial e estreita de sua espécie, que
corresponde ao processo da produção e expressão de seus pensamentos, assim como garante a criação e a transformação do mundo através do poder de suas palavras.
2. AVOZ DO PROFESSOR: SUAS CARACTERÍSTICAS E SEUS CUIDADOS
2.1. AVOZ COMO INSTRUMENTO DE TRABALHO DO PROFESSOR
De acordo com Rio (1996), a qualidade é produzida por quem vive em qualidade.
Atualmente, sabemos que incorporar alternativas que elevem a qualidade dos serviços paralelamente à melhoria da qualidade de vida dos seres humanos reflete diretamente
no bom desempenho do indivíduo no trabalho, qualificando, assim, a sua atuação.
O desconhecimento de informações básicas de cuidados com a voz pode tornar mais difícil a vida de quem dela depende para exercer sua profissão.
Indivíduos que usam a voz em caráter profissional necessitam conhecer e saber utilizar seu instrumento de trabalho, visto que a informação por si própria não é suficiente para a mudança de estilo de vida.
Para atingir o objetivo da preservação vocal com qualidade, é necessário que o professor aprenda a incorporar alguns hábitos e a eliminar tantos outros prejudiciais à sua saúde.
Enfim, é necessário que sejam feitas mudanças no plano pessoal e no ambiente.
Rio (1996, p. 15) diz que “Qualidade de Vida corresponde à percepção que cada um tem de si, num dado momento. Quanto melhor for esta percepção, melhor a qualidade de vida.”
O profissional, ao se conscientizar dos fatores que propiciam a qualidade de expressar-se com saúde vocal, provoca mudanças de conduta social e profissional que acabam beneficiando um comunicador eficaz e autêntico.
Para tanto, deve, sobretudo, conhecer as condições de produção vocal, identificando desde
situações do ambiente e seus prováveis riscos ocupacionais até fatores endógenos de cada profissional, o que o levará a compreender a dinâmica profissional e a importância da sua voz para a realização da profissão.
Usar a voz excessivamente por si só não determina um desvio vocal.
Mas o somatório desse esforço vocal contínuo e do desconhecimento de técnicas vocais pode facilitar o aparecimento de uma disfonia.
As disfonias profissionais preocupam aqueles que têm a voz como instrumento de trabalho, e a incidência tem atingido índices bastante consideráveis, principalmente na
classe dos professores.
Os sintomas de fadiga vocal, cansaço e perda da intensidade vocal causam, juntamente com fatores psicológicos, as rouquidões e, até, as afonias.
A realidade desse quadro é constatada pelo crescente número de professores licenciados,
afastados ou readaptados que exercem outras funções nas escolas, deixando de lecionar, o que causa angústia, frustração e sentimento de inutilidade.
2.2. NATUREZA E CARACTERÍSTICAS DA VOZ:
A voz é produzida na laringe, mais especificamente no trato vocal, a partir de um som básico chamado fonação.
Assim, o som emitido pela laringe não é a voz, e sim a fonação.
No trato vocal estão as pregas vocais, que são duas dobras ou pregas de musculatura paralelas ao solo, responsáveis pela produção da matéria-prima sonora.
Ao inspirarmos, elas se afastam para que o ar entre nos pulmões e, quando expiramos, elas se aproximam e vibram para a produção da fonação.
O ar é, então, um elemento essencial para a voz, sendo considerado como o seu combustível.
O som, produzido na laringe com a vibração das cordas vocais, passa pelas cavidades de ressonância (laringe, faringe, boca e nariz), ajustando a voz como um alto falante natural, amplificando- a.
Os diferentes sons de uma língua (consoantes e vogais) são, na verdade, produzidos na cavidade acima da laringe (localizada no pescoço, é um tubo cartilaginoso onde ficam as pregas vocais), por meio de uma mudança articulatória ocorrida nos lábios, na língua, na mandíbula, nos dentes e no céu da boca.
Estas estruturas modificam o som vindo da laringe, produzindo a fala.
A principal função da laringe não é a produção vocal, mas sim ajudar o organismo na respiração e na alimentação, que são funções mais vitais que falar.
Justificando, Block (1980, p. 84) afirma que “ Falar é uma função parasitária, imposta aos aparelhos respiratório e digestivo. A fonação se construiu sobre uma anatomia que não tinha nada a ver. Nem laringe, nem pulmões, nem as cavidades buco-faríngeas são, de verdade, órgãos da fonação.”
Quando deglutimos, ou quando uma substância nociva entra no nosso corpo pela boca ou nariz, as pregas fecham-se, acarretando o fechamento laríngeo.
Quando esta função encontra-se prejudicada por debilidade ou problemas neurológicos do indivíduo, pode ocorrer desvio do alimento para os pulmões, resultando numa
aspiração.
Certamente, a voz é o resultado de fatores orgânicos, uma vez que, para produzi-la, músculos, cartilagens, mucosas e inervações estão em ação, determinados por fatores como sexo, idade e constituição física, assim como os fatores psicossociais implícitos na produção estão marcados pela personalidade, pelo estado emocional e pelo próprio controle emocional. Desde o nascimento,
a laringe, por meio de diferentes manifestações vocais, especificamente revela o estado emocional do bebê.
Assim sendo, Costa (2001, p.104) revela que “[...] o indivíduo com equilíbrio emocional fala num tom grave e pausadamente, enquanto aquele que é portador de distúrbios emocionais fala
num tom alto e com a respiração ofegante”. Ou seja, o conflito de emoções pode trazer alterações na respiração, na altura da voz e na intensidade vocal.
A boa voz é aquela produzida com o mínimo de esforço para não haver tensão laríngea.
2.3. AS DISFONIAS E SEUS DETERMINANTES:
Disfonia é um distúrbio da comunicação oral, muito comum entre os professores. Impede a produção natural da voz do indivíduo devido a alguns fatores como cansaço ao falar, esforço,
dificuldade em manter a voz, rouquidão, falta de volume e tantos outros que podem estar relacionados ou não ao uso da voz. (BEHLAU & PONTES, 1995).
A disfonia pode ser classificada em funcional, orgânicofuncional e orgânica. Simplificadamente, uma disfonia é dita funcional quando se encontram problemas relacionados predominantemente ao uso incorreto da voz, inadequação vocal e alterações
psicoemocionais.
Já a disfonia orgânico-funcional possui alteração orgânica (lesão) causada por inadequações no comportamento vocal, sendo, normalmente, uma disfonia funcional diagnosticada tardiamente. Uma disfonia é dita orgânica quando suas causas independem do uso da voz, pois há presença de uma lesão orgânica, assim como também há zonas de sobreposição entre estas categorias etiológicas da alteração vocal. (BEHLAU, 2001).
De acordo com Ferreira (1999), com relação aos aspectos que contribuem para que um professor faça uso de uma voz diferente de outro, consideram-se as diferenças orgânicas (estruturas
anatômicas de tamanho, forma e massa diferentes ou funcionamento diverso) ou as diferenças psicossociais (interferência de fatores determinados na relação com o outro).
A maioria dos estudos literários que referenciam o professor apresenta como problemas vocais mais freqüentes as chamadas disfonias funcionais e orgânico-funcionais.
Conforme Fabiano (1998) e Ferreira (1999), as professoras têm maior predisposição
a alterações na voz do que os professores, uma vez que podem estar relacionadas à configuração glótica e ao comportamento vocal distintos nos dois sexos.
Outro fator relevante é a fala constante durante muitas horas do dia em intensidade aumentada e voz mais aguda, em conseqüência de ruídos externos (barulho nos corredores, salas ao lado, ruas movimentadas, pátios, etc.), ou mesmo, de internos (ruído de ventiladores, conversa dos alunos, retroprojetores, etc).
O tempo de profissão também colabora para o aparecimento de problemas crônicos pelo uso inadequado e contínuo da voz.
Ferreira (1999, p. 75) defende que “[...] a maioria dos professores desconhecem as suas condições de produção vocal provavelmente por falta de informação no período de formação (nos cursos denominados de magistério, pedagogia ou licenciatura) e de assessoria na admissão profissional ou no decorrer de sua atuação profissional [...].”
A série para qual o professor leciona pode determinar mudanças em seu comportamento vocal, uma vez que desenvolve formas inadequadas de chamar a atenção dos seus alunos em situações estressantes que podem agredir o trato vocal.
Enfim, o número de alunos, o tamanho da classe, as condições de acústica, a localização da classe, a limpeza e a temperatura do local são fatores que podem determinar dificuldades no uso vocal.
2.3.1. CONSEQÜÊNCIAS DAS DISFONIAS
A piora do estado de saúde do professor, tanto física, correspondendo a sintomas como rouquidão, dor e ardência na garganta e perda de voz, quanto emocional, como fadiga geral e
tensão pela dificuldade em falar, interfere em sua atuação, fazendo com que decaia a qualidade profissional.
Assim, em função da alta incidência de disfonia entre os professores, há uma necessidade de tratamento médico e fonoaudiológico, sobrecarregando os serviços de saúde.
Já o grande número de pedidos de licença médica, de professores readaptados que exercem outras funções nas escolas e afastamentos destes em decorrência de problemas vocais, muitas
vezes exige a contratação de outro profissional igualmente capacitado, acarretando prejuízo aos cofres públicos ou a instituições educacionais particulares.
Todavia, o professor disfônico, tido como figura de vínculo importante que atua lecionando na escola, representa um modelo que pode ser seguido inconscientemente e servir de base
para uma disfonia na criança que está desenvolvendo sua comunicação.
Como afirmam Behlau & Pontes (2001, p. 17), “ De qualquer forma, conscientes ou não, influenciamos com nossas vozes e somos influenciados pelas vozes das pessoas com quem fazemos contato.”

Também se leva em consideração a atividade de leitura e ditado, ou mesmo, a conversação em sala, podendo ocorrer falta de clareza na emissão do professor e dificultar a aprendizagem
dos seus alunos. Desta forma, torna-se urgente uma ação enérgica e abrangente, visando, por intermédio de intervenções preventivas com ações coletivas (oficinas, palestras e cursos junto a professores) à promoção de saúde vocal, pois: “ Quem exerce uma profissão que obriga a usar muito a voz deve saber tirar o máximo de seu potencial vocal, sem comprometer
o delicado aparelho fonador.”

Sabemos que as alterações na voz podem pôr em risco a profissão ou a vida.
Porém, quando correta e precocemente identificadas são facilmente tratadas.
2.4. A RESPIRAÇÃO EM RELAÇÃO À VOZ
Sabendo que o som é produzido nas cordas vocais pela vibração da força expiratória que vem dos pulmões, pode-se imaginar a importância da respiração correta para a fonação adequada.
Quando as cordas vocais não fecham bem, se escuta um escape de ar durante a fonação.
Na fonação, a maneira correta de respirar seria elevar moderadamente as costelas superiores e uma expansão torácica inferior máxima, subindo o diafragma para a inspiração.
Na expiração, destaca-se a ação dos músculos abdominais se expandindo e o diafragma relaxando.
E, assim, haverá a quantidade de ar necessário para falar bem.
Block (1980) destaca que o maior segredo da boa voz está na boa coordenação da respiração com a emissão sonora, ou seja, é preciso uma coordenação fonorespiratória no sentido de controlar
o abastecimento, o ritmo e o rendimento respiratórios durante as situações de fala.
Não é necessário elevar os ombros e o peito para respirar.
Tampouco é necessário puxar o ar com força, pois ele entra naturalmente pelo nariz, promovendo uma respiração inaudível, sem movimentação de ombros e presença de tensões musculares, resultando em uma fala calma e ritmada com pausas respiratórias,
evitando o uso do ar reserva que, por sua vez, é uma forma de evitar abusos vocais e apresentar uma emissão agradável aos alunos.
A renovação do ar enquanto se fala, proporcionando um bom fluxo de ar vibrando as pregas vocais, é importante para manter uma voz natural e sem tensão laríngea.
Nos momentos de tensão, é preciso lembrar de respirar corretamente, pois isto tem o poder de acalmar: inspirar alargando as costelas e expirar profundamente fazendo um suspiro para relaxar toda a musculatura, diminuir a ansiedade e evitar as palpitações.
A respiração deve ser calma, regular e harmônica, indicando um organismo equilibrado.
Complementando, Behlau & Pontes (1995, p. 135) argumentam que [...] “ a respiração indica os ritmos da vida, sendo o processo mais flexível do nosso organismo, o primeiro a se alterar em resposta a qualquer estímulo externo ou interno.”

Apesar de a respiração acontecer de forma mista (nasal e oral), na verbalização, é aconselhável que, em ambientes empoeirados ou cheios de partículas de giz, como geralmente se encontra a sala de aula, a respiração seja preferencialmente nasal para acontecer a filtragem do ar inspirado e evitar crises alérgicas, obstruções das vias aéreas superiores que dificultam a produção
vocal.
2.5. A HIGIENE VOCAL DO PROFESSOR
É bastante comum ouvir dos professores queixas de:
--> cansaço vocal, pigarros, ardência na garganta, dificuldades para falar e respirar, assim como dores na região do pescoço.
Estas queixas podem ter relação com alteração laríngea ou não.
Podem estar associadas a jornadas extensas de trabalho, a crises alérgicas, a estresse elevado ou a um fim de semana com uso contínuo da voz cantada.
Quanto à duração, podem persistir por um período ou desaparecer após uma boa noite de sono.
Muitos professores sofrem com as condições ambientais e recursos materiais que prejudicam sua atuação, mas, sobretudo, desconhecem os cuidados que devem ter com a alimentação, o sono, o vestuário e os recursos vocais que levam à manutenção da qualidade vocal.
Também não associam os abusos vocais, o fumo e o álcool como fatores que contribuem para a existência dos sintomas de cansaço vocal, dor, rouquidão, ardência, voz fraca e perda de voz.
Geralmente, o professor fala muito, mantém a intensidade aumentada e grita para tentar vencer os ruídos ambientais.
Postura e respiração inadequadas, falar por horas seguidas, tensão na região do pescoço, voz abafada, presa e agudização repentina no momento do grito são características comuns entre os professores.
Conforme Pinto & Furck (1988), a debilidade e fadiga vocal são produzidas pela excessiva força muscular quando se fala ao ar livre ou em más condições acústicas.
Falar em pátios abertos ou ginásios de esportes requer do professor maior projeção da voz para ser entendido. Igualmente, quando canta de forma mais intensa que o habitual para prender a atenção dos alunos acaba desenvolvendo formas que podem agredir o trato vocal.
Tudo isso mostra a evidente importância de o professor conhecer algumas normas quanto à higiene vocal, até mesmo para evitar o aparecimento de alterações vocais.
Conforme Block (1980, p. 90), “ uma boa higiene vocal pressupõe saúde geral e do aparelho
fonador.” As orientações de saúde vocal são fáceis de serem seguidas e é imprescindível que o professor as siga corretamente para evitar o aparecimento ou agravamento de problemas vocais.
Brandi (2002) ainda diz que a conduta vocal é um dos aspectos do comportamento e que nada consegue mantê-la harmônica se não soubermos torná-la saudável, recorrendo a todos os
recursos que garantam a saúde vocal.
Antes de aparecer um problema mais sério na laringe, é comum o aparecimento de alguns sintomas, como fadiga vocal, tosse seca insistente, ardência na garganta, dor, voz falha e rouquidão freqüente (sem gripe).

A voz do professor depende da saúde e harmonia de todo o seu corpo, pois a intencionalidade da boa comunicação oral envolve o corpo através da qualidade de vida que possui, assim como também depende da postura, da mímica facial e dos gestos usados com as palavras para complementar a expressão individual.
Para Le Huche e Allali, (1999, p. 30), [...] “ o comportamento vocal depende, em grande parte, da sensação subconsciente que cada um tem de seu órgão vocal.”
E, juntamente, vale lembrar que a voz deve durar enquanto durar nossa vida. Enfim, a saúde vocal depende de diversos fatores e, o mais relevante deles, é o estilo de vida do educador.
2.5.1. ORIENTAÇÕES PARA O CUIDADO DA VOZ
Alguns estilos de vida que comprometem o rendimento vocal devem ser evitados, principalmente antes de começarem as aulas, como o uso do cigarro, álcool, bebidas geladas, café, chocolate e produtos lácteos que, de modo geral, auxiliam na produção de processos catarrais alterando a qualidade vocal.
Abandonar os vícios e adquirir novos hábitos não é uma tarefa muito fácil.
Por isso, o professor deve ter paciência e dedicação, dependendo da sua predisposição em renunciar a alguns maus hábitos vocais.
Quanto ao encaminhamento, o professor que sentir qualquer indisposição ao falar deve procurar um otorrinolaringologista e ser examinado para a verificação de alguma patologia no aparelho
fonador. Na ausência de uma patologia, deve encaminhar-se ao fonoaudiólogo para a correção dos possíveis defeitos da fonação.
Souza (1998) relata que a minoria dos professores que apresenta queixas vocais procura ajuda especializada, e um número ainda menor afasta-se da atividade profissional, mesmo apresentando o sintoma diariamente.
Em relação a esse aspecto, Pinto (1997, p.3) destaca que “[...] devemos estar sempre atentos a
outros distúrbios não usuais que possam estar interferindo no bom rendimento vocal, já que o aparelho fonador é altamente sensível e qualquer disfunção em qualquer parte do organismo
pode ser prejudicial”.
No que se refere à alimentação, deve ser evitada a ingestão de comidas pesadas e condimentadas, pois provocam o refluxo gastroesofágico, podendo irritar a garganta e produzir catarro.
Um estômago cheio pode interferir no suporte diafragmático e no refluxo do suco gástrico, assim como o café aumenta o suco gástrico e o leite, o sorvete e o chocolate aumentam a viscosidade da secreção mucosa, impedindo a livre movimentação de vibração das pregas vocais na fonação. Sem contar que tais alimentos resultam na necessidade de pigarrear para limpar a garganta.
O professor, antes de utilizar sua voz profissionalmente, deve evitar o café e derivados do leite e se alimentar de refeições leves, como verduras, legumes e frutas, evitando alimentos gordurosos
e temperados.
Temos o conhecimento, também, de que o mel solta a musculatura da boca e faringe por agir como lubrificante das caixas de ressonância superiores.
No que se refere a gengibre, não existem estudos que comprovem sua eficácia ou malefício.
É recomendado, ainda, que sejam cumpridos horários regulares de alimentação, mastigando bem os alimentos com amplitude de movimentos para auxiliar numa boa articulação e dicção.
Quanto às pastilhas, sprays e drops, o uso dos mesmos deve ser ignorado, principalmente daqueles à base de menta, uma vez que irritam a mucosa. Eles não ajudam a refrescar a garganta, mas sim mascaram os sintomas de esforço vocal (ardor, dor, etc)
por possuírem o poder de anestésicos.
É recomendado ainda, beber bastante líquido, principalmente água, cerca de oito copos ou dois litros ao longo do dia para hidratar o organismo.
Pinto (1997, p. 4) alerta que “ se a mucosa das pregas vocais estiver ressecada, a probabilidade de desenvolver alterações orgânicas secundárias passa a ser muito maior, devido ao atrito de uma prega contra a outra”.

Quem é respirador bucal tem o fator ressecamento agravado, uma vez que a função do nariz não é exercida (filtrar, aquecer e umidificar o ar), necessitando, desta forma, de quantidade maior
de líquido do que o respirador nasal.
O ressecamento pode ser minimizado se a sala de aula for limpa diariamente com pano úmido
e estiver livre de poeira, fumaça de cigarro ou incenso e pó de giz em suspensão (que pode ser evitado se o professor envolver o seu apagador em um pano úmido).
Outro agravante é o ar condicionado em salas ou no próprio carro.
É aconselhável ter sempre ao alcance garrafinhas de água em temperatura ambiente para compensar o ressecamento da mucosa laríngea, ou ainda, provocar a produção de saliva,
deslocando a língua em movimentos de vaivém contra a gengiva, logo atrás dos dentes incisivos centrais inferiores.
O uso de suco cítrico sem açúcar também colabora na hidratação.
Apesar dos refrigerantes terem esta propriedade, geralmente são consumidos gelados, e a quantidade de gás no estômago pode prejudicar a livre movimentação do diafragma.
A água deve ser ingerida em temperatura ambiente, principalmente enquanto se fala, para evitar o choque térmico, pois o corpo está aquecido, podendo ocorrer alterações na mucosa, resultando edemas (inchaço) nas pregas vocais e conseqüente afonia.
Isto porque a ingestão abrupta de gelados ou de alimentos muito quentes pode provocar alterações na faringe e laringe, modificando, assim, as qualidades vocais.
Quando isto for inevitável, uma vez que na maioria das escolas há bebedouros elétricos,
e não bombonas de água, é recomendável a permanência da água gelada na boca, por alguns segundos, para depois ser deglutida, o mesmo devendo ocorrer com alimentos muito quentes.
Com relação ao sono, este é considerado um fator imprescindível para o bom condicionamento físico e mental. Por isso, a importância de respeitar o tempo de sete a oito horas de sono por
dia para o descanso do corpo.
O sono de qualidade deve ser aquele em que se respira pelo nariz.
Ao acordarmos, nossa voz possui características próprias devido ao repouso de algum tempo de nossa laringe sem ser utilizada para a fonação.
Neste período, principalmente se respiramos pela boca durante o sono, haverá um ressecamento de toda a mucosa laríngea.
O ato de pigarrear não limpa a voz. Ao contrário, o pigarro provoca atrito brusco nas pregas vocais, causando irritação. O melhor a fazer é hidratar o organismo ou respirar profundamente
e deglutir.
Vale ressaltar que, segundo Behlau & Pontes (2001, p. 32), “além do repouso corporal, devemos também considerar o repouso vocal. Após o uso intensivo de voz é ideal um período de descanso ou de uso limitado, com o mesmo número de horas de emprego da voz.”
A postura é outro item importante para a utilização adequada da voz profissional.
O tronco alongado ajuda a manter o abdome livre para uma respiração adequada.
Trabalhar por muito tempo sentado provoca a diminuição da capacidade pulmonar, o
que, associado a uma refeição exagerada, irá interferir na produção vocal.
Alguns desvios de postura que devem ser evitados principalmente durante a fala :
->Cabeça inclinada para os lados ou elevada,
->tensão de face com boca travada,
->elevação ou contração de sobrancelhas,
->olhos excessivamente abertos,
->pescoço rígido salientando músculos e veias túrgidas,
->peito comprimido,
->ombros elevados ou rodados para frente são algumas posturas que limitam a boa produção
vocal.
Posturas que favorecem a voz:
->*A manutenção dos ombros relaxados e a posição verticalizada da cabeça de forma a não tencionar o pescoço igualmente influem na boa produção vocal.
->*A boa postura deve permitir a liberdade dos movimentos, sobretudo dos braços, evitando-se
tensões localizadas.
->*Falar sempre voltado para os alunos, e nunca para o quadro-negro, evitando a aspiração do pó de giz e o aumento desnecessário de volume de voz, pode ocasionar irritação na mucosa
laríngea.
->*Movimentar-se buscando a projeção da voz para o alto e no centro da sala é o recomendado.
->*A articulação das palavras deverá ocorrer de forma clara e com abertura bucal, o que melhora a inteligibilidade da fala a fim de facilitar a compreensão dos alunos e substitui, em parte, o volume da voz.
->*A utilização de diversos recursos materiais, como retroprojetores, vídeo, cartazes e slides, ajudam na prevenção de abusos vocais, pois diminuem o tempo de conversação do professor
em sala de aula.
->*Para uma boa movimentação dos músculos que participam da fonação, ou para uma boa respiração e movimentação do corpo, é recomendado ao profissional da voz que use roupas leves e folgadas, principalmente na altura do pescoço, do peito e da cintura.
->*Os sapatos devem ser confortáveis e sem saltos para não haver tensão em todo o corpo, influência no equilíbrio do mesmo e interferência na postura adequada para a fala.
São contra-indicados solados de borracha durante o uso profissional da voz para não impedir o fluxo natural das energias.
->*Outro fator significante diz respeito à dependência química. Um deles seria o fumo, que age diretamente na mucosa laríngea provocando irritação em todo o aparelho fonador, sendo que sua
relação com o câncer de laringe é cada vez mais evidente.
Os efeitos do tabaco na mucosa laríngea correspondem não só à irritação, mas também à secura e inchaços nas pregas vocais, gerando comprometimento das qualidades vocais.
->*Já as bebidas alcóolicas atuam como anestésicos, melhorando a voz aparentemente e mascarando o abuso vocal, o que igualmente ocorre com a utilização de pastilhas, sprays e drops.
Além de irritar a mucosa da laringe, a bebida alcoólica tem a propriedade de anestesiar o trato vocal e alterar as sensações ao falar, podendo o professor abusar da voz sem perceber.
As conseqüências serão sentidas no dia seguinte ao aparecer um ardor na garganta, queimação e voz rouca e / ou fraca.
->*Outro item relevante seria o aquecimento vocal juntamente com o relaxamento do pescoço (rotação, inclinação para frente, para trás e lateralmente), alongamento de ombros e braços.
Alguns exercícios recomendados para relaxamento das pregas vocais:
--> Vibração de língua e lábios ajuda na preparação das pregas vocais para
os períodos de fala prolongados. As pregas vocais são músculos e precisam de aquecimento
para não sofrerem ‘lesões nem desgastes.
-->Para relaxar a musculatura facial, são recomendados exercícios, como o bocejo para abrir bem a garganta, e a mastigação de maçã ou salsão antes de usar a voz por um tempo prolongado, o que auxilia na articulação e na limpeza do trato vocal por serem adstringentes, tornando a saliva mais leve e fina.
-->O professor pode ser beneficiado, também, com a prática de caminhadas, alongamentos, natação e ioga, por promoverem relaxamento, estiramento muscular e consciência respiratória.
Desta maneira, esportes como o judô, caratê, afins e aulas de aeróbica devem ser evitados por profissionais da voz pelo fato de combinarem exercícios de esforço muscular com fala, vocalizações ou o canto simultâneo sobrecarregando o aparelho fonador.
Assim também basquete, tênis, boxe, vôlei, peso e musculação são contra indicados
por exigirem movimentos bruscos dos braços, causando rigidez muscular nas regiões do pescoço, ombros, tórax, costas e, conseqüentemente, tensão na laringe, com prejuízo à produção
vocal.

Igualmente importante é destacamos a prática da automedicação, cada vez mais freqüente em nosso meio, pondo em risco não somente a saúde vocal, mas também a saúde geral.
Os remédios inadequados ou os remédios corretos tomados de maneira errada podem representar uma ameaça à voz.
Justamente por serem compostos químicos, seus efeitos e reações colaterais podem significar aparecimento de inchaço, hemorragia e ressecamento da garganta, obstrução nasal, pigarro e tornar a voz feminina grave, além de causar irritabilidade, insônia, irritação gástrica e tremor, que pode ser percebido na voz por afetar o controle da sua produção.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conhecer a atuação dos professores em seus ambientes escolares e propor ações que venham ao encontro de suas necessidades profissionais é possível à fonoaudiologia, já que há um grande desconhecimento desses profissionais da voz com relação ao uso e aos cuidados básicos da voz. Cabem ao fonoaudiólogo a prevenção e a detecção de problemas vocais, o que contribuirá para uma melhor qualidade de vida do professor.
Acrescentando, “ as práticas voltadas para a prevenção têm surgido como alternativas importantes, e a escola passa a constituir-se em um local privilegiado para o trabalho do fonoaudiólogo.”
Contudo, a atuação preventiva necessita ser mais difundida no Brasil.
Conseguir mobilizar os que deveriam ser os maiores interessados - os professores – e as autoridades envolvidas com as questões de saúde e educação parece ser o grande objetivo da
classe dos fonoaudiólogos.
Sabemos que o trabalho da fonoaudiologia ainda não faz parte do cotidiano escolar de forma
expressiva, até mesmo pelo desconhecimento das possibilidades de atuação fonoaudiólogica.
É imprescindível que os professores tenham uma boa fala, uma boa voz.
Para isto, necessitam receber treinamento intenso e adequado para saberem usar devidamente seu aparelho fonador.
Muitos professores se lançam a um trabalho idealístico, cansativo, sem o mínimo conhecimento de técnica vocal e dos riscos de uma alteração orgânica decorrente do uso inadequado da voz.
O entendimento do mecanismo vocal e sua utilização adequada constituem-se na melhor forma de prevenir problemas de voz.
A voz falada é considerada como parte integrante da comunicação oral humana.
Então, percebemos que o que afeta a voz, afeta a fala, a comunicação e a pessoa no seu bem-estar biopsicossocial.
A possibilidade de poder desenvolver e proteger sua qualidade de voz confere à pessoa segurança e confiança na comunicação oral, permitindo melhor inserção nas relações pessoais
e de trabalho, tornando-a mais feliz e integrada.
Acreditamos que os professores, por seu uso profissional da voz, vivenciam e oferecem oportunidades para a troca de experiências valiosas com a fonoaudiologia.
Cabe a essa área se mobilizar no sentido de abrir sua percepção àquilo que extrapola à ação
clínica.
O ideal seria que todas as escolas promovessem um curso fonoaudiólogico anual para que o professor pudesse identificar alterações vocais precocemente, ou ainda, que a escola contasse
com o auxílio de um fonoaudiólogo a fim de identificar e orientar os professores, as crianças e os pais.